Laqueadura tubária

Informações do Município de São Paulo

A laqueadura tubária/esterilização feminina/ligadura das trompas consiste em um procedimento cirúrgico realizado para interromper, em definitivo, o canal de comunicação entre o óvulo e o espermatozóide, impedindo, assim, a fecundação e a gravidez. A técnica cirúrgica adotada pode variar.

Técnicas separadas do parto (ao menos 60 dias de intervalo): 

Por videolaparoscopia (cirurgia realizada através de 3 pequenos oríficios de cerca de 3 cm na parte de baixo do abdômen, com a inserção de uma câmera para guiar o procedimento); 

Por Microlaparotomia (técnica parecida coma cesariana); e

Laqueadura vaginal (através da vagina, sem abertura do abdômen).

Técnicas pós-parto imediatas: 

Pós-cesárea (durante a cirurgia de cesárea, após o nascimento do bebê e antes do fechamento do útero); e

Laqueadura periumbilical (logo após o parto normal através do umbigo).

As técnicas de laqueadura vaginal, periumbilical e por vídeo têm tempos de recuperação cirúrgica menores, já que não têm cortes no abdômen. Já as técnicas com corte no abdômen levam a uma recuperação cirúrgica de 15 a 30 dias, a depender da fisiologia do corpo e tem mais chances de complicações. 

A laqueadura é considerada um método contraceptivo irreversível, já que a chance de reversão da cirurgia é muito baixa e de difícil acesso. Por isso mesmo, a escolha pela laqueadura deve ser feita diante de uma escolha autônoma relativa ao fato de não querer mais estar gestante, independente de ter tido gestações anteriores ou não. 

Existem outros métodos contraceptivos tão eficazes quanto a laqueadura que são reversíveis, que podem ser consultados no Mapa, como o implanon e os dispositivos intra-uterinos.

Atualmente, a laqueadura tubária é objeto de uma Lei: a Lei de Planejamento Familiar nº 9.236/1996, alterada pela Lei nº 14.443/2002. Para acesso ao método, a Lei exige que se tenha ao menos 21 anos ou dois filhos. Preenchendo um desses requisitos, você pode procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de sua residência e expressar a vontade de utilizar o método.

Vantagens

  • Um dos métodos contraceptivos mais eficazes que existe: chance de gravidez de menos de 0,5%, ou seja, 5 em cada 1000 mulheres podem engravidar após a cirurgia.
  • Método livre de hormônios (não aumenta risco de trombose, nem de câncer de mama, nem provoca a queda de libido); 

    Método que independe da usuária no dia-a-dia; e

    Não provoca alteração de fluxo menstrual ou qualquer alteração no padrão de cólicas.

Desvantagens

    • Método irreversível (ou com baixas chances de reversão);
    • Não previne de ISTs;
    • É um método cirúrgico e, consequententemente, traz riscos relativos ao procedimento e à anestesia; e

    Depende de um processo administrativo para ser aprovado, o que acarreta em possível demora na realização do procedimento.

Contra-indicações verdadeira

  • Contraindicações à anestesia ou a procedimentos cirúrgicos; e
  • Menores de 21 anos ou pessoas com menos de dois filhos.

Conta-indicação falsa

  • Exigência de que a pessoa tenha mais de 21 anos e dois filhos. Não é necessário preencher os dois requisitos, mas apenas um deles.

Total de procedimentos
de laqueadura

O Mapa identificou dois tipos de procedimentos diferentes que envolvem laqueadura tubária no Sistema de Informação Hospitalar (SIH): “Laqueadura Tubária” e "Parto Cesariano com Laqueadura Tubária". A diferença entre esses códigos de procedimentos tem relação com o fato de a laqueadura ser realizada no momento imediatamente posterior ao parto ou de maneira isolada e independente do parto.         

Em relação ao procedimento identificado no SIH como Laqueadura Tubária (isto é, laqueaduras realizadas independentemente de parto), em 2019, foram registrados 3.946 casos, com uma redução  para 1.932 casos em 2020, e novo aumento, em 2021, para 2.310 casos. A trajetória se manteve ascendente em 2022, com 2.575 casos, e atingiu seu pico em 2023, com 4.691 casos. O total acumulado ao longo dos cinco anos é de 15.454 procedimentos registrados.

No segundo procedimento, "Parto Cesariano com Laqueadura Tubária", observou-se um padrão de variação com tendência de aumento. Em 2019, foram realizados 2.210 procedimentos, seguido por 1.990 procedimentos em 2020, 2.021 procedimentos em 2021, 1.971 procedimentos em 2022 e, o pico, 3.584 procedimentos em 2023. O total acumulado para este procedimento ao longo dos cinco anos é de 11.776 registros.

Somando ambos os procedimentos, o total geral de laqueaduras registrado ao longo dos cinco anos é de 27.230, indicando uma tendência crescente ao longo do período analisado, excetuando-se o período da pandemia, em 2020.

Os dados citados acima podem ser encontrados aqui e estão representados no Gráfico 1.

Número total de laqueaduras por
tipo de procedimento e ano

Fonte: SIH 2019-2023
Gráfico 1. Número total de inserções de Implanon registrados no Sistema de
Informação Hospitalar (SIH) 
por ano no município de São Paulo
Número total de laqueadura por faixa etária
São Paulo, 2019-2023
Fonte: SIH, 2019-2023
Gráfico 2. Número total de inserções de implantes hormonais registrados no Sistema de Informação Hospitalar (SIH)  por faixa etária da paciente no município de São Paulo

Laqueadura por faixa etária

Em relação à faixa etária das pessoas que realizaram laqueadura tubária no período de 2019 a 2023, a maior parte dos procedimentos – 15.224 (55,9 %) – ocorreu na faixa etária de 30 a 39 anos, seguida pela faixa de 20 a 29 anos, com 8.617 (31,6%).  

Os dados completos, com o número de procedimentos por faixa etária estão aqui e são representados no Gráfico 2.

Laqueadura
por RAÇA/COR

  • Em relação a raça/cor das pessoas que realizaram laqueadura, a maior parte dos procedimentos foi realizada em mulheres pardas, com 9.945 procedimentos, o que corresponde a 36,5% do total. Em seguida, identifica-se mulheres brancas, com 7.160 procedimentos (26,3%), e as mulheres sem informação de raça/cor, com 8.267 procedimentos (30,4%). As mulheres pretas realizaram 1.788 procedimentos (6,6%), ao passo que as mulheres amarelas realizaram 68 procedimentos (0,25%), e as mulheres indígenas realizaram 2 procedimentos (0,01%) no período analisado.

Os dados completos de raça cor podem ser encontrados aqui e estão representados no Gráfico 3.

Número total laqueadura por raça/cor
São Paulo, 2019-2023

Fonte: SIH, 2023
Gráfico 3. Número total de inserções de Implanon registrados no Sistema de Informação Hospitalar (SIH)  por raça/cor da paciente no município de São Paulo

Informações sobre laqueadura por subprefeitura

A subprefeitura de Itaquera é a que mais se destaca, com um total de 4.928 procedimentos realizados, representando 18% do total. A maior parte desses procedimentos concentra-se na faixa etária de 30 a 39 anos, totalizando 2.600 casos (52,8%). Em relação à distribuição racial do procedimento na subprefeitura, a maioria dos procedimentos está “sem informação” (59,7%), seguido de mulheres pardas e brancas (16,1% - 20,1%). 

Butantã
A subprefeitura do Butantã registrou 2.584 procedimentos, representando 9,4% do total. Dentre eles, destaca-se a faixa etária de 30 a 34 anos, com 1.390 casos (53% do total de procedimentos da Subprefeitura). A distribuição por raça/cor mostra que, dos 2.584 procedimentos, 430 procedimentos foram realizados em mulheres pardas (16%), 202 em mulheres brancas (7,8%), e 21 em mulheres pretas (0,8%) e o os outros 1931 (74,7%) sem informação sobre raça/cor, representando mais uma vez a dificuldade de preenchimento dos profissionais de saúde desse quesito.

Santo Amaro
A subprefeitura de Santo Amaro aparece entre as mais relevantes subprefeituras a realizarem o procedimento, com um total de 2.489  laqueaduras (9,1% do total de São Paulo). Novamente, a faixa etária de 30 a 34 anos é a mais significativa, com 1.375 procedimentos (55% do total de procedimentos da subprefeitura). Dados de raça/cor indicam que, dos 2.489 procedimentos, a maioria foi realizada em mulheres brancas (16,2%) e pardas (81,4%), com o número de sem informação em raça de apenas 0,1%, mostrando um preenchimento mais adequado dessa informação.

M'Boi Mirim
A subprefeitura de M'Boi Mirim realizou 2.125 procedimentos (7,7% do total), destacando-se a faixa etária de 30 a 34 anos, com 1.151 casos (54,1% dos procedimentos registrados na Subprefeitura). A maior parte dos procedimentos foi realizada em mulheres pardas (40,4%), seguidas por mulheres brancas (32,3%) e pretas (19,8%).

Capela do Socorro
A subprefeitura de Capela do Socorro registrou 2.118 procedimentos (7,7% do total em São Paulo). A faixa etária de 30 a 34 anos também prevaleceu nessa subprefeitura, com 1.188 procedimentos realizados (56% dos procedimentos realizados nessa região). Em termos de distribuição racial, 1.370 procedimentos foram realizados em mulheres pardas (64,7%), 546 em mulheres brancas (25,8%), e 198 em mulheres pretas (9,3%).

Os valores totais anuais por cada subprefeitura foram ponderados pela população de residentes. Mais detalhes podem ser encontrados aqui. Os gráficos de faixa etária e raça/cor para cada uma das subprefeituras podem ser encontrados aqui.

Como podemos interpretar esses dados?

Nas décadas de 1980 e 1990, a laqueadura era usada como uma forma de esterilização compulsória das mulheres negras e indígenas. Dados mostram registros de 75% das mulheres abaixo dos 35 anos laqueadas: muitas delas com a crença de que poderiam “religar” depois, ou, ainda, tendo sido submetidas a laqueadura sem consentimento ou esclarecimento do que estavam escolhendo e, pior, sendo submetidas a cesarianas à revelia para serem laqueadas durante o procedimento. 

Essa política levou a um aumento substancial do número de cesarianas, com registros muito acima dos recomendados pela OMS, e foi considerada uma política eugenista, já que dizia quais parcelas da população deveriam ou não gestar e dar à luz. Em razão disso, a política foi alvo de uma CPI em 1993 (CPI das Esterilizações), presidida pela deputada Benedita da Silva e exigida pelo movimento de mulheres negras. O relatório final dessa CPI pode ser acessado aqui.

Para saber mais sobre a regulamentação da laqueadura por lei, assista ao vídeo produzido por AzMina:

O que diz a lei e quais mudanças diante da alteração de 2022? 

  • A lei de 1996 definiu que era necessário os serviços de saúde deve um termo de consentimento como esse às mulheres e pessoas com útero que desejassem realizar o procedimento;
  • No mesmo sentido, estabeleceu a obrigatoriedade do intervalo de 60 dias d entre o consentimento  para o procedimento e o ato cirúrgico, com a finalidade de evitar laqueaduras pós cesáreas e impedir que mulheres fossem submetidas ao procedimento, diante da vulnerabilidade do parto, sem seu consentimento;
  • Com a alteração legislativa de 2022 a laqueadura passou a poder ser realizada no parto, desde que o termo de consentimento seja assinado com 60 dias de intervalo entre a assinatura e o procedimento; 

A Lei de 1996 exigia a autorização do cônjuge para a realização ato cirúrgico, exigência que, à época, foi feita por setores da igreja católica. Com a alteração em 2022, a referida autorização não é mais necessária; 

Até 2022, exigia-se, para a realização do procedimento, aa idade mínima 25 anos ou dois filhos. Atualmente, a idade mínima é de 21 anos, sem a necessidade de que a mulher já tenha filhos. 

Os dados do Mapa identificaram, em ambos os tipos de procedimento de laqueadura registrados, uma tendência de aumento gradual ao longo dos anos, com exceção ao ano de 2020, em provável consequência da pandemia de COVID-19.  

Com esse histórico em conta, em relação aos dados relativos à raça/cor na prevalência dos resultados, rememora-se que, tal qual em outros métodos contraceptivos estudados pelo Mapa, há uma importante ausência de preenchimento de informações nos registros encontrados, o que pode reportar dificuldade de preenchimento do critério raça /cor pelos profissionais de saúde. De todo modo, os dados do Mapa exibiram uma prevalência relevante da realização da laqueadura em mulheres pardas, sendo necessário atentar para a possibilidade de manutenção da política que, desde 1980, utiliza o método a partir de um viés eugenista e coercitivo. 

Em relação à faixa etária, dados do SEADE mostram que, no Município de São Paulo, de acordo com o censo do IBGE de 2022, existem 3.441.805 mulheres em idade fértil (de 10 a 49 anos). Realizado um cruzamento do referido dado com o número de laqueaduras identificado em São Paulo, registrar-se-ia uma média de 0,79% das mulheres em idade fértil que realizaram o procedimento de laqueadura no período de 2019 a 2023. 

As menores quantidades de procedimentos foram realizadas nas faixas etárias de 10 a 14 anos, 15 a 19 e 50 a 59. Como são números muito baixos, especialmente na faixa etária de 10 a 14, que possui apenas um registro, não se pode descartar a possibilidade de erro de preenchimento na notificação, já que abaixo dos 21 anos esse procedimento é considerado ilegal. 

Finalmente, destaca-se que os dados reportados nesta página são restritos aos procedimentos realizados nos últimos 5 anos (2019-2023), de modo que não alcançam mulheres e pessoas com útero que já realizaram o procedimento antes de 2019. Para que a completude dos dados seja reportada, faz-se necessária uma pesquisa populacional, como a publicada em 2020 e realizada em 2015 intitulada “Diferenciais da prática contraceptiva no Município de São Paulo, Brasil: resultados do inquérito populacional Ouvindo Mulheres”, e demonstrou uma taxa de realização de laqueadura de cerca de 7,5%, demonstrando uma mudança de padrão em relação às décadas anteriores, quando a laqueadura chegava a ser usada como método por 38,6 % das mulheres em 1996, ano da Lei de Planejamento Familiar.  (LAGO, TDG, et al, 2020).

Acesse aqui a tabela de dados com os números absolutos de laqueadura por estabelecimento de saúde cadastrado

Como você pode acessar
o laqueadura?

Para encontrar a UBS mais próxima de onde você mora e obter informações para a realização da laqueadura, acesse o Busca Saúde.

Podem solicitar que você preencha um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a realização do procedimento. Leia-o atentamente e assine depois. 

Caso você enfrente dificuldade no acesso a este método ou se sinta compelida a realizar a laqueadura contra a sua vontade, é possível buscar ajuda! Saiba o que é possível fazer na aba de denúncia.

Referências

https://censo2022.seade.gov.br/populacao-por-idade-e-sexo/

LAGO, TDG, et al, (2020). Diferenciais da prática contraceptiva no Município de São Paulo, Brasil: resultados do inquérito populacional Ouvindo Mulheres.Cadernos de Saúde Pública, Volume 36; doi: 10.1590/0102-311X00096919).